A Mondrongo, editora do Teatro Popular de Ilhéus conduzida pelo poeta Gustavo Felicíssimo, lança no próximo sábado, dia 17, às 19h, “Cobra de Duas Cabeças”, de Herculano Assis, revelando poesia e prosa inéditas de Sosígenes Costa (1901-1968), considerado um dos maiores poetas baianos de todos os tempos. O lançamento será no Teatro Municipal de Belmonte, cidade natal do poeta. Segundo Jorge de Souza Araújo, a obra “resulta de amorosa pesquisa e justificado penhor, caros à memória de um poeta de excelência, aqui observado como pensador e crítico notabilizado por uma verrina que de tão surpreendente constitui-se mais ainda afeta à literatura baiana e brasileira.”. Sosígenes, que estreou na imprensa por volta de 1928, em Ilhéus, onde foi colaborador do “Diário da Tarde”, no mesmo ano tornou-se membro da Academia dos Rebeldes, com Jorge Amado, entre outros escritores. Na época, trabalhava como professor de instrução primária. Em 1959 publicou “Obra Poética”, pelo qual recebeu o Prêmio Jabuti de Poesia. Entre 1978 e 1979 foram publicadas a segunda edição, revista e aumentada, de “Obra Poética”, e a póstuma “Iararana”. A poesia de Sosígenes Costa vincula-se à segunda geração do Modernismo. Segundo o crítico literário José Paulo Paes, “quando ainda andava acesa a campanha dos modernistas contra o soneto em prol da institucionalização do verso livre, entretinha-se o poeta a escrever seus 'Sonetos Pavônicos', todos rigorosamente rimados e metrificados, nos quais são perceptíveis traços parnasianos e, sobretudo, simbolistas, ainda que tais sonetos nada tenham de passadistas, caracterizando-se antes por uma modernidade que se patenteia, como a de Quintana, na exploração criativa das possibilidades expressionais dessa forma fixa, então esclerosada pela prática mecânica e abusiva.”. Ainda no dia 17, o site da editora Mondrongo entrará no ar. Anote desde já o endereço: www.mondrongo.com.br
CHUVA DE OURO
As begônias estão chovendo ouro,
suspendidas dos galhos da oiticica.
O chão, de pólen, vai ficando louro
e o bosque inteiro redourado fica.
Dir-se-á que se dilui todo um tesouro.
Nunca a floresta amanheceu tão rica.
As begônias estão chovendo ouro,
penduradas nos galhos da oiticica.
Bando de abelhas através do pólen
zinindo num brilhante fervedouro,
as curvas asas transparentes bolem.
E, enquanto giram num bailado belo,
as begônias estão chovendo ouro.
Formosa apoteose do amarelo!
Sosígenes Costa
(1928)
(1928)